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Sandro Mêda
Director
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Saudades do futuro
O passado está em alta. Na música, dizem que as receitas do fenómeno Abba nos últimos anos foram superiores a todas as que o grupo sueco gerou quando existia; na alimentação, regressam os benefícios dos ingredientes dos nossos avós; e na moda as cores e as fórmulas de outra era. Entrando no “nosso” mundo, nunca foi tão elevado o interesse pelas máquinas antigas. Nos mais diversos estilos de motos e automóveis, está no auge a apetência por ressuscitar as linhas do passado. E o “movimento” não move apenas pessoas da geração que nasceu no tempo das antiguidades. Há tempos conheci um jovem de 13 anos cuja última paixão é… um VW Carocha. E não me refiro a um Carocha da playstation nem em miniatura. Apesar dos pais usarem carros modernos com todas as mordomias, incluindo as tecnologias inventadas na sua geração, o carro no qual ele gostava de andar é nesse marco histórico encomendado a Ferdinand Porsche há exactamente 75 anos – data que o construtor alemão celebra com a exibição de alguns KdF no seu novíssimo museu. É óbvio que esta vontade de fazer perdurar o passado espelha uma desilusão generalizada com o mundo que os nossos líderes, quase todos muito fracotes, criaram nos últimos anos. Mas, mais do que isso, revela um gosto e necessidade pela não massificação; por ter, usar e fazer coisas diferentes. Infelizmente, na nossa actual economia de mercado esta problemática cria algumas contradições. Há quem defenda que os fabricantes têm que rentabilizar os investimentos fazendo vários milhões de coisas idênticas. Sérgio Marchionne, o todo-poderoso da Fiat e agora também da Chrysler, diz que cada plataforma, para ser rentável, tem que gerar um milhão de vendas por ano. É essa a estratégia que a VW usa: a mesma plataforma do Golf para vários carros aparentemente díspares. Mas também há exemplos de fracasso para a mesma receita. A GM fez o mesmo com vários modelos e não foi isso que a salvou da falência.
Noutra corrente, a BMW tenta, e tem conseguido, gerar vendas de milhões com base numa exclusividade “universal”. É pioneira em inúmeras soluções tecnológicas e mantém a aposta no automóvel como objecto de paixão, mas guarda os segredos para si e ainda não entrou na massificação de marcas e modelos.
E agora, a Koenigsegg, minúsculo, quase artesanal, construtor sueco de super-desportivos, compromete-se a fazer da Saab aquilo que a GM não conseguiu: uma marca de sucesso com a dose certa de exclusividade, qualidade e vendas.
Nunca como agora houve tantas soluções diferentes para enfrentar um mesmo problema da indústria automóvel.
Qual delas nos trará saudades… do futuro.
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